Imaginação e o caminho do bodisatva: seis perfeições

Todos temos o mesmo problema humano: como cuidar bem de nossas vidas e ao mesmo tempo expandi-las. Neste livro, proponho a visão do bodisatva – nossa própria versão dela – como um modo de fazê-lo. Nós todos queremos expandir a nós mesmos, servir, dar algum salto em nossas vidas. O caminho do bodisatva pode oferecer inspiração. O caminho do bodisatva é definido pelas seis práticas chamadas seis paramitas. A palavra paramita é geralmente traduzida como “perfeição”. Essa tradução vem das palavras-raiz param, que significa “o outro lado”, e ita, que significa “ido”. Paramita significa “ido para o outro lado”. Por extensão, significa “perfeição”. Perfeição vai até o fim do possível – e além. Atravessa para o outro lado, além do possível.

“Ninguém é perfeito.” Como na maioria dos ditados populares, isso também é verdade. Nenhum ser humano pode ser perfeito. Mas isso não nos impede de tentar. As seis perfeições são impossíveis. Ninguém pode praticá-las. Mas as praticamos mesmo assim. Tornamos o impossível, possível.

O único jeito de fazer o que não pode ser feito é usando a imaginação. Não posso praticar as paramitas objetivamente, mas posso praticá-las usando a imaginação, por meio de voto, intenção, espírito, comprometimento e ação. Posso praticá-las por meio do amor, por meio da expansão do meu coração. Esse é o espírito de praticar as seis perfeições.

Num sutra antigo, o caminho budista é comparado com uma jangada. Começando na margem do sofrimento, você navega para a margem do nirvana. Você vai além da dor para a paz. Usando a palavra paramita, “indo além”, para descrever o caminho do bodisatva, os mahayanas queriam ecoar o sentido dessa metáfora inicial. Cada uma das seis perfeições é uma jangada nos carregando de uma margem para outra. Mas também cada perfeição já está além. Praticar, onde quer que estejamos, já é estar além. Nós nunca deixamos essa margem por outra porque já estamos lá, já estamos além, imediatamente, simplesmente por fazer a prática. A maior das imperfeições é a perfeição! O caminho por si é o objetivo. Esse paradoxo repousa no coração da prática das seis perfeições.

As seis perfeições são expansivas, práticas infindavelmente imaginativas, ainda que sejam, ao mesmo tempo, pé-no-chão. Elas são caminhos para o desenvolvimento do caráter, são meios de melhorarmos nosso funcionamento como seres humanos no mundo tal como ele é. No seu conjunto, elas definem um espírito e um modo de vida. As seis perfeições são generosidade, conduta moral, paciência, alegre empenho, meditação e compreensão.

A perfeição da generosidade: abrir nossos corações para nós mesmos, para os outros e para a abundância da vida.

A perfeição da conduta moral: prestar atenção nos nossos pensamentos, palavras e ações, afastando-os do autocentrismo e indo em direção ao amor e ao benefício dos outros.

A perfeição da paciência: encarar completamente as dificuldades e as transformar no caminho.

A perfeição do alegre empenho: despertar para a esperança e alegria, para que possamos manter nosso compromisso de prática com um espírito brilhante.

A perfeição da meditação: prática focada, de sentar-se regularmente e caminhar para renovar e desacelerar nossos corações e mentes, para que nossos dias e noites possam ser firmes e calmos.

A perfeição da compreensão: reconhecer que nada é como pensamos ser; que não há separação, nenhuma tragédia; que nada é fixo ou sólido; que há apenas amor e esperança sem fim além e dentro do que acontece e não acontece. A perfeição da compreensão permeia as outras cinco perfeições. É o grande dom do pensamento budista Mahayana, a fonte e o fruto da imaginação.

Essas seis práticas definem o caminho do bodisatva, o herói imaginativo do caminho budista Mahayana. Contemplá-las e praticá-las é um projeto de uma vida inteira – um que nunca iremos concluir. Quanto mais as praticamos neste mundo louco, mais veremos como nossas vidas humanas comuns, com todas as suas pressões e dificuldades, podem também ser uma jornada espiritual heroica e apaixonada. Compreensão e amor são possíveis.

Nos capítulos que se seguem, iremos estudar e praticar as seis perfeições – o caminho imaginativo do bodisatva.

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