Renúncia

Renúncia, em tibetano, é nge jung. Nge jung exprime o sentido de deixar um lugar, definitivamente. Significa sair. Em tibetano, “renúncia” não tem a mesma conotação que no inglês, em que pode haver dor envolvida. Em inglês, por exemplo, se diz: ele renunciou à pátria, ele renunciou à riqueza, ele renunciou ao patrocínio. Há sempre um sentimento de desistência, mas com um tom de arrancar pela raiz. Em outras palavras, “renúncia” dá a sensação de virar as costas com pesar a algo que é desejável. Por isso, nos círculos budistas, quando alguém diz: “Você tem que renunciar a alguma coisa”, todo mundo faz uma cara estranha e diz: “Ui!”

O sentido tibetano de “renúncia” é um pouco diferente. Por exemplo, se você tivesse que dizer a seus filhos que eles têm que deixar de brincar com seus brinquedos, eles achariam muito doloroso. Todavia, à medida que as crianças crescem, elas perdem o fascínio por tais brinquedos. Ficam crescidas demais para eles. Deixar os brinquedos para trás não parece “renúncia” — é simplesmente uma questão de crescer. Da mesma forma, na primavera e no verão, quando as árvores estão cheias de folhas, há resistência se tentamos arrancar uma folha de um galho. Porém, quando chega o outono, as folhas caem das árvores sozinhas, de forma espontânea. A renúncia está estreitamente alinhada com esse sentido de se separar. Por fora, pode parecer que se está abrindo mão de algo e pode até mesmo haver dor, mas por dentro, o interesse por essas coisas foi ultrapassado. As coisas esvaem-se naturalmente.

Nos anos 1960 e 1970, alguns ocidentais foram para a Índia, em busca de “verdades espirituais”. E, nessa jornada, havia aqueles que provinham de famílias abastadas e com muitos recursos. Precisaram deixar muita coisa para trás. Passaram a dormir em hotéis sujos, comer alimentos intragáveis e tudo isso com alegria, porque estavam recebendo muito mais em troca. Eles não tinham a impressão de estarem desistindo de algo valioso.

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Em nossa vida, precisamos definir valores. O que realmente importa para nós, nesta vida? Se não nos fazemos essas perguntas, ficamos apenas dando voltas, tentando apenas nos manter confortáveis. Para termos uma direção definida, precisamos definir um propósito para nós mesmos. Precisamos nos perguntar: o que seria uma vida bem vivida? Uma vez que tenhamos definido o nosso propósito, temos que descobrir quais coisas nos conduzem adiante nesse caminho e quais coisas são apenas distrações.

 

Trechos de livros

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